Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A segunda batalha

Depois de vencida a primeira batalha , voltei a trabalhar e tentar seguir minha vida normalmente.

Tudo era novidade no meu trabalho, as pessoas me dando os parabéns, querendo saber do bebê, eu tendo que me adaptar com o sono que uma gravidez causa entre outras coisas... mas também tiveram coisas não muito boas. Assim que retornei do meu período de afastamento soube que minha área havia se desmanchado: os dois analistas que trabalhavam comigo pediram demissão e minha estagiária quando soube que eu estava afastada pediu pra sair, ou seja, quando voltei estava retomando meu trabalho porém com pessoas novas no setor, sendo que eu mal as conhecia. Trabalhei  uns 10 dias sob um stress terrível, tendo que colocar o trabalho atrasado em dia e ainda me adaptar com as mudanças de pessoal. Um belo dia, depois de uma reunião muito tensa com meu diretor, fui ao banheiro e para meu pavor havia novamente sangue na minha calcinha. Me desesperei e pensei “ah não, de novo não”. Corri em direção a uma colega minha e pedi que ela me levasse ao hospital. Ela me levou no Centro Clínico que fica perto do trabalho do Amaral, assim ele poderia me acompanhar, só que não consegui atendimento lá pois não tinha obstetra de plantão, saímos de lá direto pra Santa Casa, mas não conseguimos atendimento porque estava demorando em média 2 horas para passar pela triagem. Então liguei para a minha gineco pra que ela me orientasse e ela então mandou que eu fosse direto no consultório.

Chegando no consultório ela me examinou e disse que eu estava com a placenta baixa, como eu não entendi, pedi que ela me explicasse. Então ela me disse que normalmente, em relação ao útero, a placenta se localiza no lado tendendo para cima, mas a minha estava totalmente em baixo do útero e isso tinha um risco muito alto de com o peso do útero, a placenta se descolar, se soltar e causar a perda do bebê. E esse risco aumentaria cada vez mais com a evolução da gestação, pois cada vez o útero ficaria mais pesado. Ela me disse também que esse problema normalmente é solucionado nturalmente lá pela 24ª ou 25ª semana de gestação e eu recém estava na 12ª, então novamente teria que ficar em repouso absoluto pra não correr risco de forçar um descolamento de placenta, já que nas ecos anteriores era possível ver um hematoma devido a descolamentos que já haviam acontecido.

Lá estava eu então, de repouso absoluto (nessas horas, dane-se o trabalho) quando um belo dia, de madrugada, fui ao banheiro e estava meio dormindo quando percebi que meu absorvente estava totalmente ensopado e quando fiz xixi senti uma coisa saindo de dentro de mim e fazendo um barulho de “ploft” na água do vaso. Não estava entendendo o que estava acontecendo, mas gritei pro Amaral que veio até mim e tentou me acalmar. Levantei, olhei no vaso e era só sangue. Com o cabo da escovinha de limpar vaso mexi na água a fim de descobrir o que era aquilo que tinha saído de mim, e quando consegui ver fiquei em pânico... era uma coisa enorme, com aparência de bife de fígado. Na minha ingênua ignorância, aquilo era a placenta que tinha descolado e eu tinha perdido meu bebê. Entrei em desespero, comecei a chorar e corremos imediatamente para o hospital. Isso era por volta das 4 da madrugada e quando chegamos no Mãe de Deus não havia ninguém na recepção da emergência, chamamos, esperamos uns 10 minutos e nada. Eu estava apavorada, então pedi pro Amaral ir entrando na recepção até encontrar alguém pra nos atender. Então depois disso me encaminharam para a maternidade. Lá me examinaram e disseram que aquilo que saiu de dentro de mim era um coágulo de sangue e que fariam uma ecografia pra confirmar se estava tudo bem com o bebê.

O médico que foi realizar a eco devia estar dormindo, pois chegou na sala do exame de cara inchada e todo escabelado. Ele me examinava e não falava nada, eu não consegui ver a tela da eco, a angustia era muito grande, até que pude ver o Amaral sorrir e me dizer que o bebê estava se mexendo. Graças a Deus, que alívio. Mas o resultado do exame não era muito bom pois havia descolado uma parte da placenta e por isso eu deveria permanecer totalmente em repouso. Tudo bem, repouso absoluto, só que por causa de tanto ficar parada meu corpo começou a parar também. Meu intestino não funcionava e com isso tive crises de hemorróidas, simplesmente horrível.

Desta vez o Amaral tirou férias pra ficar em casa comigo, pelo menos nos primeiros dias. Eu só ficava em casa. Só saía pra ir na gineco ou fazer exames.

Neste período fiz a eco de transluscência nucal, que serve para identificar se o bebê teria alguma deficiência neurológica, principalmente síndrome de down. O resultado do exame foi ótimo. Não mostrou nada que pudesse indicar algum tipo de problema. Pelo contrário: o médico disse que minha placenta parecia que estava se inclinando para cima e que em algumas semanas já estaria totalmente na posição correta, além de ter nos dito que pelo que viu, nos dava 30% de certeza de ser um menino. “Se isso aqui não é um pinto, eu não sei o que é”, foi assim que o médico nos falou.
Nossa, quanta felicidade. Mesmo o percentual sendo pequeno, eu sabia que era um menino. Saímos da clínica ligando pra todo mundo e o mais emocionante foi quando liguei pro meu pai. Ele chorou muito e me agradeceu pelo neto homem. Como meu pai só teve meninas, o sonho dele era ter um neto, pra fazer com ele tudo que ele não pode fazer comigo e com minha irmã.

Os dias seguiram e eu de repouso, até que minha placenta pudesse ficar no lugar certo.  Nesta fase já o chamávamos pelo nome e meu pai já estava montando um álbum e colecionando figurinhas da Copa pra mostrar pro João Pedro o grande acontecimento do ano em que ele foi gerado.

Com 20 semanas fiz a ecografia morfológica, que serve para medir os membros e órgãos do bebê e identificar possíveis mal formações físicas. Exame perfeito. Nada de anormalidades, o bebê estava no tamanho e peso adequados para o período da gestação, todos os membros completos e órgãos visivelmente no lugar certo, além de minha placenta estar quase toda em cima, diminuindo ao máximo a chance de um aborto.

Tudo era felicidade, finalmente as coisas estavam entrando nos eixos. Então resolvemos que esse era o momento para o Amaral fazer a cirurgia de redução de estômago que já estava planejada.  Ele tinha que fazer isso antes do João Pedro nascer, senão depois eu não ia ter como cuidar dos dois.

Tudo certo, cirurgia feita, até que o médico me chamou e disse que tinha encontrado um tumor no intestino do Amaral durante a cirurgia. Meu Deus, mais isso....  não bastasse toda a minha preocupação com a gravidez, lidar com essa notícia do tumor não foi fácil. Mas graças a Deus deu tudo certo, era benigno e não teve outras complicações. A partir dali o Amaral estava pronto pra aguardar a chegada do JP (assim que a gente chamava ele de vez em quando).

Depois da função do Amaral no hospital, voltei no consultório da minha gineco pra uma consulta de rotina e quando ela me examinou disse que parecia que eu estava com o colo do útero curto. Então ela me explicou que se isso se confirmasse, eu teria que fazer uma micro cirurgia, dar uns pontos no útero pra poder agüentar a gravidez até final, pois eu estava com apenas 23 semanas e se houvesse rompimento do útero, dificilmente o JP iria sobreviver. Novamente o mundo caiu na minha cabeça e mesmo com toda a tensão que eu estava, minha gineco me disse que se isso estivesse acontecendo, era porque eu tinha entrado na fila dos problemas. Vê se pode, ela ainda conseguia “brincar” numa hora dessas.

Saí do consultório e fui imediatamente fazer uma eco. Pra se considerar que o colo do útero está curto, ele deve medir menos do que 2cm, o meu estava medindo 2,34cm. Não estava abaixo, mas também não tinha uma folga muito grande. Precisava observar. Fiz outra ecografia em 15 dias mas ele se manteve estável, o que era considerado muito bom.

Até que em fim eu poderia ter vida normal, voltar a trabalhar, em fim, curtir minha gravidez que já tinha passado da metade. Iniciamos o cursinho de gestantes no hospital Mãe de Deus, onde em princípio o João Pedro nasceria. Estava vendo um equipe pra filmar o parto pois queria tudo o que tinha direito. Só não estava arrumando o quartinho porque iríamos nos mudar em dezembro, então faria tudo na casa nova, já que a previsão de parto era dia 11/01/11 (bela data).

Mas a felicidade e tranquilidade durou pouco...


Eco que mostrou nitidamente que era um menino...

3 comentários:

  1. Me emociono em cada linha que leio..tu consegue descrever com muito carinho cada momento!
    Continuo acompanhando tudinho!
    Bjãooo

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  2. Grayce querida... a cada nova postagem me emociono com a luta que travaram para que o JP viesse ao mundo. Vcs foram pais exemplares!
    beijos

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