Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A primeira batalha

Depois de contar pra família, ainda precisava viajar a trabalho durante uma semana antes de fazer a primeira eco. No dia 11/05 parti de Porto Alegre para SP para ministrar um treinamento. No mesmo dia, à noite, segui de SP para Campinas onde daria o mesmo treinamento no dia seguinte. Ministrei o treinamento na empresa e por volta das 18 horas estava no aeroporto de Viracopos quando resolvi ir ao banheiro antes de entrar no avião. Levei um susto: havia sangue na minha calcinha. Fiquei desesperada e imediatamente liguei para minha ginecologista. Ela disse que eu não devia me assustar, que sangramentos são comuns nos 3 primeiros meses, mas que eu deveria observar pra ver se não aumentaria de volume. Tentei me acalmar. Fui então de Campinas para Belo Horizonte e do aeroporto direto para o hotel onde fiquei em repouso.

Naquela noite eu e o Amaral nos falamos por MSN mas eu não podia falar nada pra ele, pois ele ficaria muito preocupado. Eu estava apavorada, mas precisava me manter calma. Na manhã seguinte, quando acordei para seguir minha maratona de treinamentos o volume de sangue tinha aumentado muito. Fiquei sem chão, sem saber o que fazer. Liguei então para uma colega de trabalho, expliquei a situação e logo ela chegou pra me buscar e me levar a um hospital. Nunca vou me esquecer o que a Simone fez por mim, agradeço imensamente. 

A Simone me deixou no hospital e seguiu até a empresa, pois ela é que abria o escritório e não poderia ficar comigo. Me vi sozinha, longe de casa, em outro estado, onde não conhecia ninguém e não sabia nem o que fazer, tudo era muito novo pra mim. Entrei em desespero e comecei a chorar. Todos à minha volta ficaram me olhando apavorados, então uma das enfermeiras me levou à uma salinha privada e ficou conversando comigo. Eu estava com muito medo de perder meu bebê.

Fui atendida, a médica me examinou e disse pra eu não me preocupar que aquilo era sangramento do primeiro trimestre, dizendo ela, era totalmente normal. Tentei então seguir minha rotina de trabalho normalmente, mas confesso que estava assustada. De BH ainda fui à Brasília e depois voltei à POA na sexta-feira. Chegando em casa, contei pro Amaral o que tinha acontecido e no sábado de manhã fomos ao hospital Getúlio Vargas em Sapucaia (maldita hora que fui ali). 

Quando cheguei no hospital, mesmo tendo plano e saúde, fui atendida pior do que pelo SUS... O médico que estava de plantão me atendeu e já saiu me dizendo que se eu tava sangrando era porque eu tava abortando, e que ali naquele hospital não tinha o que fazer, porque nem ultrasom tinha, que se eu pudesse era pra ir pra Porto Alegre, já que lá os hospitais tem mais condições e que se eu tivesse abortando, eles já me faziam um curetagem na hora. Imagina ouvir isso assim à seco.... entrei em choque, comecei a chorar e o médico anda teve a cada de pau de me dizer que não tinha motivo pra eu chorar.

Saímos do Getulio Vargas direto pro Hospital Mãe de Deus em POA. Lá fiz um ecografia que identificou que eu estava com 5 semanas e 1 dia de gestação, aparecia saco gestacional mas ainda não havia embrião. A médica que me atendeu disse que isso era normal, e que inclusive muitas mulheres nem formam embrião, aí o corpo expeli normalmente (aborto espontâneo). Lá estava eu, ainda sem respostas e só tendo que esperar.

Na segunda-feira seguinte eu precisava fazer uma viagem de bate e volta em Curitiba. Fui de manhã e voltei de tarde. Na volta, o avião que eu estava (WebJet) entrou em uma zona de forte turbulência e parecia que ia cair. Foi um pavor dentro do avião, todo mundo gritando, crianças berrando, uma mulher se jogou no chão, foi pavoroso. Quando o avião finalmente aterrissou, entrei em pânico, chorei muito, estava apavorada e senti que o sangramento havia aumentado.

Corremos do aeroporto direto pro consultório da minha gineco. Chegando lá ela me disse que pelas características do que eu estava contando eu poderia estar com nível baixo de progesterona. A progesterona é um hormônio que faz com que as mulheres mantenham o bebê no útero e se estiver em nível baixo, ocorre o aborto. Como garantia, mesmo antes de sair o resultado do exame que constataria se havia baixo nível hormonal, minha gineco já me receitou uma dosagem de hormônios intravaginais e repouso absoluto. Todos o dias antes de deitar eu tinha que colocar as cápsulas de hormônio. Alguns dias depois de ter começado a usar progesterona, o sangramento foi diminuindo, mas eu ainda precisava fazer outra eco pra identificar se o embrião tinha se instalado no útero. Recorri então à Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre para fazer as ecografias com médico especializado.

No dia da segunda eco, eu estava ansiosa, querendo ver em que pé estava minha gestação. O Amaral tava quer era só sorriso esperando pela hora de ver o embrião. Pronto, lá estava o saco gestacional bem regular, com embrião instalado mas sem batimentos cardíacos. Pelo tempo de gestação que eu estava já deveria aparecer os batimentos, e a médica me disse que seria sincera comigo. Ela me falou que em situações como estas, normalmente o embrião não desenvolve e o corpo acaba expelindo, ocorrendo um aborto. Mas ela me disse também que já tinha acontecido de pacientes chegarem lá na mesma situação e dar tudo certo. Fiquei muito triste, chorei muito, pois tudo o que eu mais queria era poder ter meu bebê. Mas não desanimei. Percebi que eu precisava lutar pelo meu filho (ainda não sabia que seria menino) e que não podia pensar que daria algo errado.

Naquele final de semana era aniversário de 50 anos do meu pai e iríamos fazer uma festa. Como eu gosto muito de trabalhar com decoração, eu era a encarregada de decorar o salão, mas como poderia fazer isso se eu tinha que ficar de repouso??? Pedi então ajuda aos meus grandes amigos Eder e Vivi. Eles não sabiam de nada, mas contamos pra eles junto com a notícia de que eles seriam os padrinhos (além de nossas irmãs). Foi um momento muito feliz pra gente, mesmo com a possibilidade da gravidez não “vingar”. Mas eu não pensava assim, tinha certeza de que tudo daria certo.

Chegou então a hora da festa do meu pai, e lá pelas tantas ele apresentou um vídeo onde mostrava um pouco da sua vida, fez um discurso em homenagem à família e por fim, muito emocionado, deu a notícia a todos “Gente, eu tinha pedido pra minha filha que me desse um presente de 50 anos, e ela me deu. Eu vou ser avô. Minha filha tá grávida”. Que momento... era emoção pra todos os lados. Estávamos rodeados dos nossos amigos e todos compartilharam desta alegria com a gente. Claro que não comentamos com ninguém as dificuldades que estávamos tendo, até mesmo para que não houvesse especulação. Mas eu tinha fé e certeza que tudo estaria diferente na próxima eco.

Chegou o tão esperado momento. Era uma eco por semana e a cada semana uma angústia, mas desta vez eu acreditava que seria diferente, tanto que levei um CD para a médica gravar o exame. Eu e o Amaral entramos na sala de exame ansiosos, pois eu ainda tinha sangramento, mas pra nossa surpresa lá estava ele: um feijãozinho com 6 mm e coração com 145 bpm. Gente, eu não tinha tido emoção tão grande como aquela em toda a minha vida, nem mesmo quando descobrimos a gravidez foi mais emocionante do que ouvir o coraçãozinho dele. Aquelas batidas rápidas e fortes pareciam uma cavalaria. Foi o som mais lindo que já ouvi. Assim que a médica saiu da sala, eu e o Amaral nos abraçamos e choramos muito. Finalmente, tudo estava resolvido.

Saímos da sala de exame e já enviei uma mensagem contando a novidade, e logo começaram as ligações. Todo mundo muito feliz. Eu estava com 8 semanas, o bebê estava bem, o sangramento estava parando por causa do uso da progesterona, ou seja, tudo estava se encaminhando para a normalidade. Eu precisava continuar em repouso até cessar o sangramento, e foram 32 dias direto. Mas tudo bem, eu não me importava de ficar só deitada pelo bem do meu bebê.

Nesse período, minha mãe tirou licença do trabalho pra ficar em casa comigo. Como minha casa é um sobrado, eu não poderia em hipótese alguma descer e subir escadas, então ela ficava comigo pra me dar o que comer. Neste momento comecei a dar mais valor à minha mãe, pois vi que não se mede esforço para fazer o bem à um filho. 

Estava tudo indo bem, até que...

4 comentários:

  1. Greice que emoção,mas continuo te acompanhando,e emocionada com cada palavra q vc escreve!!!

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  2. Grayce, tu havia contado mais ou menos a tua historia akele dia q nos conhecemos, mas não com tantos detalhes!! estou novemente emocionada... q batalha vcs travaram!
    Como ja disse, com certeza o JP se orgulha muito dos pais q tem!
    beijao

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  3. Grayce,
    com certeza o JP esta muito orgulhoso dos Pais que ele tem...vcs lutaram muito e juntos, e isso é o que importa!
    Bjoss

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  4. Grayce e Anderson, a cada dia que passa,sinto-me mais orgulhosa de ser mae e sogra de dois seres tao guerreiros como vocês.Mais orgulhosa ainda sinto-me por ter sido escolhida para ser a vó do JP,pois só voces dois sabem o quanto desejei.Nao tivermos a oportunidade de permanecer com JP fisicamente em nosso lar, mas fomos agraciados em poder mante-lo muito vivo nos nossos corações, lugarzinho que ninguém poderá tira-lo de nós.Que Deus ilumine a mente e o coração de voces para que possam continuar na caminhada em busca da felicidade,pois é isso que voces merecem.Obrigado por terem colocado JOAO PEDRO esse anjo lindo,iluminado e guerreiro em nossas vidas.AMO OS TRES. Elaine(Vovó do JP).

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