Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A notícia da HDC

Minha gravidez seguia bem, adorava quando as pessoas me perguntavam como eu estava e finalmente eu podia dizer tranqüila que estava tudo ótimo, que estava só esperando a chegada do meu gurizinho valente. Porque isso que ele era, um GERREIRO VALENTE. Passar por todas essas dificuldades e riscos ainda antes de nascer e mesmo assim resistir, só mesmo sendo muito forte. A minha amiga Vivi, que seria uma das dindas dele, sempre se referia a ele como “Guerreiro da Dinda”.

A essa altura da gestação já tínhamos comunicado quem seriam os padrinhos. Ia ser um monte, pois decidimos convidar as nossas irmãs. Então seriam as duas irmãs do Amaral, a Daia e a Deisi e as minhas duas irmãs, a Glaucia e a Vivi que é a minha irmã de coração. Como a Glaucia e a Deisi não são casadas, convidamos meus primos Filipe e Dudu, que são como meus irmãos,  para fazer par com elas. O Claudio acompanharia a Daia e o Eder acompanharia  Vivi. Uma criança com 4 casais de padrinhos não tem como não ser amada, e isso não faltava pro João Pedro. Amor é o que ele mais tinha, e ainda tem.

Eu estava lá pelas 25 semanas e nesta fase ele se mexia muito. Dava cada chute e soco que chegava ser engraçado. Ele já reconhecia nossas vozes e bastava o Amaral chegar do trabalho pra ele começar a rebolar dentro de mim. A gente conseguia brincar com ele. Era só dar uma cutucadinha na barriga que ele respondia com um chute ou soquinho. Ele adorava música alta, e quando tocava o dance ”Panamericano” o guri só faltava sair pela minha boca de tanto que se mexia. Gostava também de música gaudéria (puxou muito pelos pais), era só tocar uma vaneira que ele saia dançando. As vezes eu e o Amaral colocávamos música em casa e nós 3 dançávamos juntos. Difícil eu não me emocionar quando lembro desses momentos. Vivemos tantas coisas lindas juntos. Éramos íntimos de mais, mesmo ele estando na minha barriga, e por causa dessa intimidade, começou a surgir a curiosidade em saber com quem ele seria parecido.

Marcamos então para fazer a eco 3D, onde poderíamos ver o rostinho dele e ter a sensação dele mais perto da gente. A eco foi agendada para dia 19/10, semana em que eu retornaria ao trabalho, já que tudo estava bem.

Chegou o dia tão esperado. Fomos eu, o Amaral e a minha mãe para a clínica. Enquanto estávamos esperando me chamarem, ficamos brincando com ele. Minha mãe ainda não tinha sentido ele se mexendo, mas naquele dia ele mexeu muito quando ela colocava a mão na minha barriga. Sempre quando eu ia fazer eco, eu comia chocolate antes, pois ele ficava mais agitado e se mexia bastante.

Entramos na sala do exame e minha mãe não queria perder um momento. Até bateu foto de mim e do Amaral posicionados na maca. Todos estávamos muito ansiosos. O médico era um amor, tinha um sotaque de gringo que eu adorei, falava bem calmo e ria com a gente. Logo que o médico colocou a sonda na minha barriga, o danadinho se mexeu e foi possível ver todo o braço, inclusive a mãozinha dele fazendo um “certinho” pra gente. O médico seguiu fazendo o exame e logo pudemos ver o rostinho do JP. Como o médico mesmo disse, ele tava um exibicionista, pois dava pra ver direitinho, com todos os detalhes. Mas não conseguíamos definir com quem ele se parecia, pois de frente era a cara do Amaral e de perfil parecia muito comigo. Era realmente uma mistura de nós dois.

Estávamos tão contentes com aquele momento que nada poderia me deixar mal, nem mesmo a notícia que o médico me daria logo a seguir.

Imagem da mãozinha fazendo "certinho".

Imagens em 3D da face em diversos ângulos

Certa hora, o médico ficou tempo de mais examinando a mesma parte. Eu não entendia porque ele media várias vezes a circunferência da barriga e comecei a ficar angustiada, mas logo ele me falou, com a maior cautela do mundo, que ele estava medindo várias vezes pois estava percebendo uma pequena alteração. Ele disse que todas as outras medidas apontavam pra um bebê com 27 semanas (exatamente o tempo que eu estava), mas que a dimensão da barriguinha dava pra 25 semanas. Então ele me disse que isso era compatível com Hérnia Diafragmática,  me mostrou que o estômago do João Pedro estava localizado no tórax, deslocando um pouco o coração para a direita e por isso a barriguinha dele estava menor do que deveria. Aí eu perguntei pra ele o que era isso e o que deveria ser feito. Ele me disse então que eu deveria conversar com minha obstetra para que ela me orientasse, pois provavelmente meu filho precisaria de uma cirurgia logo que nascesse.

Por incrível que pareça eu não fiquei nervosa. O médico foi tão cauteloso e tranqüilo pra me dar a notícia que passou essa tranqüilidade pra mim. Enquanto eu estava na sala de espera aguardando o cd com as imagens, percebi que minha mãe estava tensa, e eu ainda disse pra ela ficar tranqüila que isso não devia ser nada, a final, conhecia muitas pessoas que tiveram hérnia e nunca tiveram nada de mais.

Pegamos o cd e o laudo e viemos embora. Deixei minha mãe na casa dela e vim pra minha casa pra colocar as fotinhos no Orkut, pois todo mundo tava curioso pra ver a carinha dele. Nem me preocupei em pesquisar na internet o que era a tal Hérnia Diafragmática (graças a Deus não fiz isso), pois pra mim isso não era nada. Pela primeira vez em toda a gravidez eu não fiquei nervosa com uma possibilidade de problema. No outro dia fui trabalhar de manhã e de tarde fui na minha gineco mostrar o exame pra ela. Como foi um horário de encaixe, o Amaral não conseguiu chegar a tempo pra ir comigo, então fui sozinha.

Chegando lá, minha gineco já me olhou meio atravessada, pois não era época de eu ir consultar. Então falei pra ela que tinha feito uma eco 3D e que tinha aparecido uma Hérnia Diafragmática e eu precisava saber o que era isso. Então ela me olhou com os olhos arregalados e me disse com essas palavras “isso é um bucha”. Quando ela me disse isso, quase caí da cadeira e perguntei “como assim?”.
Daí ela me explicou que a hérnia era um furinho no diafragma, mas que neste caso não era m furinho e sim um “rombo”, e que por esse rombo os órgãos do abdome subiam para o tórax e não deixavam espaço para o pulmão crescer e sem pulmão ele não ia respirar e podia morrer assim que nascesse.

Dá pra imaginar o que é ouvir que teu filho pode morrer assim que nascer????? Eu não sabia o que pensar, nem chorar eu consegui. Não sei seu eu tava mais apavorada com a notícia ou com a forma como ela me deu a notícia.

Ela abriu o notebook na sala e foi pesquisar na internet artigos pra me dar como base (se fosse só isso eu mesma podia ter feito em casa). Quando ela encontrou o artigo, olhou pra mim e disse “se é pra falar a verdade, vou ser sincera: só tem 60% de chance de sobrevida”. Eu não sabia o que fazer, não tinha reação pra nada. Lembro de ter perguntado pra ela o que eu poderia fazer e ela me disse que eu tinha que encontrar uma boa UTI Neo Natal e um bom cirurgião Pediátrico. Pedi pra ela indicações e ela me disse que não tinha ninguém pra me indicar. Ela me deu um pedido de eco morfológica e eco cardio e pediu que eu voltasse assim que os exames estivessem prontos.

Saí do consultório como se e estivesse voando. Não sabia o que eu fazia, nem o que pensava nem pra onde ia. Até que um anjo colocou no meu caminho a Dra Raquel Lobato. Ela é uma médica amiga da minha mãe e trabalha no mesmo prédio da minha gineco e acabamos nos encontrando no elevador quando eu estava saindo do consultório. Quando ela me viu com a cara de pavor que eu tava me perguntou o que estava acontecendo e eu desabei. Então ela me disse que eu não me preocupasse que ela ia me indicar um ótimo cirurgião.

Agradeci e sai em direção a lugar nenhum. Eu não tinha rumo, até que me atinei a pegar um táxi e ir pra casa da minha mãe. Quando cheguei lá, nós duas nos abraçamos e choramos muito. Minha mãe fez o que eu não fiz. Quando eu deixei ela em casa, no dia anterior ela foi direto pesquisar na internet, e encontrou as piores coisas possíveis. Porque é isso mesmo, na internet  só se acha informações dos piores casos e da pior maneira possível. Então minha mãe e minha irmã já estavam sabendo do problema pela pior fonte, mas não sei o que foi pior, se elas verem isso tudo na internet ou se eu receber a notícia daquele jeito pela minha gineco.

Logo o Amaral chegou e contei pra ele e ele caiu em desespero. Nós chorávamos sem parar. Eu não conseguia me conformar e me perguntava: por que comigo? Eu tinha certeza que seria uma boa mãe. A única coisa que eu queria era poder ter meu filho e isso estava ameaçado. Minha revolta era que muitas tinham a oportunidade de ter filhos e colocavam no lixo, jogavam no rio, amarravam em sacola e tocavam fora. Eu jamais faria isso. Sonhava com o momento de ter meu filho nos braços mas estava diante de uma grande barreira. Não queria acreditar naquilo tudo.

Eu simplesmente abandonei meu trabalho. Liguei pra lá, contei o que estava acontecendo e disse que não voltaria mais. Depois eu ia me preocupar como ia fazer com o trabalho, mas naquele momento não havia condições de eu ir trabalhar.

Naquele dia nem tive coragem de ir pra casa e fiquei na casa da minha mãe. Meu pai estava viajando e minha mãe teve que falar pra ele por telefone. Ele tentou não se desesperar e se apegou muito na fé.  Minha irmã chegou da faculdade de noite e estava em desespero. Assim que me viu me abraçou e começou a chorar. No início nos revoltamos muito com Deus, achando que ele não era justo com a gente, mas ainda bem que mais tarde conseguimos mudar essa visão. Eu e o Amaral passamos a madrugada chorando, eu não consegui dormir nada.

No dia seguinte começamos a maratona de tentar encontrar um cirurgião e marcar os exames que minha gineco tinha solicitado. E aí começou uma nova batalha...

4 comentários:

  1. Grayce querida, lendo este post não tenho como não lembrar de quando descobri a HDC da Cecília... Pra nós aconteceu o oposto, a médica que fez a eco ficou apavorada e o gineco foi mais cauteloso... mas infelizmente fui direto pesquisar na net e só piorou o meu tormendo.
    Sei oque sentiste, e não lembro de ter passado por pior situação na minha vida. A perguntas que fizeste foram as mesmas que me fiz...
    Só posso desejar que Deus continue te dando força!
    Beijos

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  2. Grayce,
    gosto muito da nossa Gineco...mas ela é muito direta para nos dar qqr parecer sobre um exame.
    Passei por isso duas vezes,que teria que "tirar" meus filhos antes do previsto e prematuramente e sei o quão direta ela é em falar tudo, que hj penso que por um lado é bom, mas como estamos grávidas ficamos mais sensíveis.
    Continuo acompanhando e cada vez mais admiro tua força! Que Deus continue te iluminando!

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  3. Filha,me veio à mente neste instante,o momento que nos duas nos encontramos depois que chegastes da médica e por incrivel que pareça,consegui sentir a tua dor.Te amo minha filha valente.

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  4. Grayce!
    Sou a Simone, prima da Fabiana/Everton!
    Acompanhei um pouco da tua angústia depois que ela me contou. Não tem como não ficarmos sensíveis a esta situação. Confesso que sempre que leio o que escreves, me emociono muito. Acredito que só uma mãe e um pai de corpo, alma e coração conseguem ter a força que vocês têm!
    Acredito ainda que isso mostrou a vocês o grande amor que vocês têm um pelo outro e quão companheiros e cúmplices vocês são. Assim como tua família também está sendo contigo!
    Saibas que Deus está com certeza reservando algo maravilhoso.
    Que Deus continue iluminando vocês!

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