Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

02 de dezembro de 2010 - O dia mais feliz da minha vida

Eram 4:50 da madrugada, eu estava dormindo, quando de repente tive a sensação de estar fazendo xixi. Me acordei num susto, dei um pulo da cama e percebi que na verdade era a bolsa que tinha estourado. Dei um grito pro Amaral, que acendeu a luz e já me disse “fica calma”. Eu estava calma. Coloquei as mãos na minha barriga e falei “filho, não era pra ser agora. Que Deus nos proteja.” A primeira coisa que fiz foi olhar a cor do líquido. Era clarinho como água, e isso me deixou tranqüila. Isso foi um dos benefícios de ter feito o cursinho de gestante.

Fui para o banheiro, deixei o excesso de líquido escorrer e entrei para o banho. Enquanto isso o Amaral ligava pros meus pais. Quando meu pai atendeu o Amaral “Aerton, teu neto quer nascer”, e meu pai ainda dormindo perguntou “mas tem que ser agora?” Ele não se deu conta do que estava acontecendo. Então o Amaral teve que explicar que a bolsa tinha rompido e que nós teríamos que ir imediatamente pro hospital.

Assim que o Amaral desligou, pedi a ele que ligasse para minha obstetra. Por incrível que pareça eu estava muito calma, calma como nunca estive em toda minha vida. Acredito que uma força superior esteve ao meu lado o tempo todo, pois eu não parecia eu mesma. O Amaral ligou pra minha obstetra e chamou até cair. Saí do banho, me vesti e liguei pro outro celular dela. Também chamou até cair. Insisti de novo ligando pro primeiro número e chamou até cair, então deixei mensagem de voz, avisando que minha bolsa tinha rompido, que eu estava indo pro Moinhos e que era pra ela me ligar.
Liguei então pro Moinhos, avisando que eu estava saindo de casa e que era pra irem preparando tudo.

Logo meus pais e minha irmã chegaram. Estavam nervosos e ficaram espantados com minha calma. Pedi que durante o caminho minha irmã fosse tentando contato com minha obstetra. A Glaucia foi ligando desde que saímos de casa até chegarmos no Moinhos (cerca de 40 minutos depois que a bolsa rompeu) e o celular da minha obstetra só chamava até cair. Eu estava começando a ficar preocupada. Minha irmã deixou mensagem de texto avisando o que estava acontecendo e pedindo pra ela retornar.

Chegando no Moinhos, prontamente me encaminharam para a maternidade. O Amaral me acompanhou enquanto meus pais ficaram fazendo minha ficha.

Lá na maternidade me deitaram em uma maca e colocaram um aparelho para monitorar os batimentos do João Pedro. Em seguida veio uma enfermeira e perguntou se eu já tinha avisado minha obstetra. Eu disse que estávamos tentando mas ela não atendia. Passamos então os celulares da Dra para que as enfermeiras fossem tentando fazer contato com ela. Dali há pouco veio outra enfermeira perguntando quem era o pediatra neonatal do JP. Expliquei que ainda não tínhamos pois o Dr Lionel é quem veria isso pra gente quando eu estivesse na 35ª semana. Pedi que elas ligassem pra ele, mas parecia até que elas era inexperientes, pois não atinavam a fazer as coisas. Eu estava ali na maca, impossibilitada de tudo e ainda sim era eu quem tinha que pensar no que fazer.

O tempo foi passando e eu comecei a ficar angustiada, pois ninguém me falava nada concreto, apenas me perguntavam coisas. Uma das enfermeiras veio e me disse que não estavam conseguindo contato com minha obstetra e teve a cara de pau de me perguntar como iríamos fazer já que ela não estava atendendo. Eu é que tinha que saber????? Daí eu já tava irritada e falei que obstetra era o de menos, que podia ser o obstetra de plantão do hospital mesmo. Aí ela me disse que o hospital não trabalha em sistema de plantão de emergência. Que o obstetra que tinha no hospital não era autorizado a fazer parto. Pronto, me apavorei. Já estava há quase duas horas com a bolsa rompida e não tinha ninguém que pudesse tirar o João Pedro de dentro de mim. Mas Graças a Deus logo veio até mim uma enfermeira já mais experiente e me disse pra ficar tranqüila que tudo ia ser resolvido. Aí depois disso era só ela que falava comigo.

Um tempinho depois essa enfermeira veio e me disse que o Dr Lionel havia  chegado e que já ia resolver a questão de quem seria o pediatra que participaria do parto. Mais um tempinho ela veio e me disse que desistiram de contatar minha obstetra pois ela não atendia e que chamariam um médico credenciado com o hospital e que atendesse pelo meu plano. De vagarinho as coisas começaram a se ajeitar.

Na sala de preparo.
Deu sorte da câmera estar na minha bolsa. Com a correria não íamos lembrar de pegar.

Comecei a sentir contrações e elas iam diminuindo o espaço de tempo entre uma e outra. Fiquei assustada, pois o João Pedro não poderia chegar antes de toda a equipe estar preparada.

Logo chegou o Dr Arlindo, obstetra que tinham chamado. Ele veio, se apresentou e perguntou algumas coisas sobre minha gestação para que ele pudesse ter idéia do que tinha pela frente.

Na seqüência as Dras Elizabeth e Betânia, pediatras neo que receberiam o João Pedro, vieram conversar comigo e com o Amaral. Elas vieram cheia de cuidados me avisar que eu não poderia vê-lo assim que nascesse pois teriam que levá-lo para a UTI. Eu disse pra elas não se preocuparem comigo, pois eu estava ciente de tudo e que eu queria que elas fizessem o melhor pelo meu filho.

Eu sabia e estava ciente de toda a dificuldade da situação e sabia também que com a prematuridade tudo era mais agravado, mas em momento algum eu pensei que algo daria errado. Eu estava tão otimista, confiante e tinha certeza que o  melhor aconteceria. Tenho certeza absoluta de que nossos anjos da guarda estavam presentes e iluminaram nosso momento.

Estava tudo pronto. Era perto das 8hs da manhã quando me levaram para o bloco cirúrgico. Me prepararam e então chamaram o Amaral. Eu não estava sentindo nada, mas de repente o Dr Arlindo disse “pai, levanta que o João Pedro vai nascer”. O Amaral levantou, e logo eu ouvi dois chorinhos. Dia 02 de dezembro de 2010, 8h 05min... Pronto, eu era mãe. Lembro de ter conseguido balbuciar as palavras “seja bem vindo meu filho”, mas as lágrimas e a emoção não me deixavam fazer mais nada. Naquele momento consegui entender o que minhas amigas me diziam, que na hora que nasce a gente cria um sentimento jamais experimentado, diferente de tudo que já vivemos. Foi como se uma tempestade de coisas boas tivesse passando pelo meu corpo. Senti tanta coisa junto que nem sei explicar. Isso tudo em fração de segundos.

Vi uma das pediatras passar com ele no colo e a outra disse pro Amaral que logo viriam chamar ele. Então o Amaral ficou ali comigo, nos beijamos e ele só conseguia me dizer “nosso filho é lindo” (estou chorando emocionada escrevendo isso). Ele repetiu isso varias vezes, até que vieram chamar ele pra ir acompanhar os procedimentos. Então eu fiquei ali só com os médicos, mas tinha certeza de que meu filho estava em boas mãos.  

O Amaral apertou o botão errado e ao invés de fotografar, acabou filmando.
Ainda bem que ele errou o botão. Assim consigo ter guardado o som do chorinho dele.

Para minha surpresa, minutos depois vejo o Amaral, o Dr Lionel e as pediatras vindo até mim com o João Pedro no colo. Não estava acreditando. Eu sabia que não poderia vê-lo e não estava entendendo o que ele estava fazendo ali tão pertinho de mim. Então uma das médicas disse “olha mamãe, quem veio te ver! Ele nasceu tão forte e pediu pra vir aqui conhecer a mamãe dele.” Fique muito emocionada. Estava ali na minha frente, um pedacinho de gente, sujinho, enroladinho numa mantinha, de toquinha na cabeça e com um caninho na boca (que era o aparelho de respiração). Era de verdade, era o meu filho que tinha nascido forte o suficiente pra quebrar as barreiras em vir até mim pra eu poder realizar o meu sonho de dar um beijo nele. Ele teve nota de apgar 8 e depois 8 de novo, considerado excelente diante de toda situação. Ver ele ali do meu lado confirmou o que já tínhamos visto na eco 3D: ele era a cara do Amaral, lindo de mais.

Tivemos tempo de bater algumas fotos juntos e o Amaral conseguiu registrar o lindo momento do meu primeiro beijo no meu filhote. Não consigo lembrar disso sem que escorram lágrimas. Foi a coisa mais emocionante da minha vida. Era real, estava acontecendo. Eu já estava conformada de que só poderia tocar no meu filho quando eu pudesse ir lá na UTI, mas tudo aquilo que eu sempre sonhei estava acontecendo. Era o melhor presente da minha vida.

Nosso primeiro encontro. O momento mais emocionante da minha vida.

A equipe. Dra Elisabeth, Dr Lionel e Dra Betânia.
Mesmo diante de toda difculdade, todos estavam sorrindo. 

As médicas então me disseram que tinham que levar ele pra continuar os procedimentos. Fiquei tranqüila. Estava tão feliz que nada me preocuparia.

Pesagem.
Tem que descontar 10g que é o peso da mangueirinha do respirador. 

O Amaral seguiu com elas e depois foi avisar minha família que estava aguardando na sala de espera. Um tempinho depois me removeram pra sala de recuperação e no caminho pararam pra que eu pudesse dar um tchauzinho pros meus pais pelo vidro.
Não lembro quanto tempo eu fiquei na sala de recuperação, e quando o Amaral vinha ficar comigo eu dizia pra ele voltar e ficar junto com o João Pedro.

Assim que me levaram pro quarto, bem depois do meio dia, eu perguntei pra minha mãe se a minha obstetra tinha ligado, e ela me disse que não. Fiquei indignada. Tudo bem ela não ter atendido e nem aparecido pra fazer o parto, ele poderia estar numa emergência e talvez não pudesse atender o telefone, mas eu esperava que pelo menos ela ligasse depois pra saber como estavam as coisas, mas isso não aconteceu.

Depois que fui pro quarto descansei um pouco, o Amaral ficava indo na Neo toda hora ver como ele tava e cada vez que vinha eu queria saber notícias. Logo fiquei sabendo o peso. Ele nasceu com 1,9Kg, e conforme o Dr Lionel, era um peso bom pra cirurgia. Cada vez que o Amaral ia lá vinha com uma fotinho, mas não tinha muita diferença, pois não tinha muito o que fazer. Me assustei um pouco quando vi que ele estava cheio de esparadrapos e tinha uma venda nos olhos, mas o Amaral me explicou que era pra que ele não reagisse com a claridade e não fizesse nenhum esforço. Percebi que o tórax dele era mais alto que o abdome. Situação normal para um bebê com HDC.

Lá na UTI Neo, cheio de coisas.
Dá pra perceber que o torax é maior em relação ao abdome. 

Na noite anterior, quando eu saí do Boa Nova, eles me pediram que eu desse notícias sempre, parecia até que eles sabiam o que ia acontecer. Então depois que eu estava sem efeito da anestesia eu liguei contando que o JP tinha nascido, que estava na UTI e que em breve ele passaria por uma cirurgia. A pessoa que me atendeu me disse assim “quando tu for lá na neo, tu conversa com o João Pedro, mas não com aquele que tá lá na incubadora. Conversa com o João Pedro grande, aquele que ta do lado do bebezinho olhando por ele. Fala pra ele que tu ama muito ele e que Deus vai fazer o que é melhor.” Agradeci e disse que daria notícias sempre.  

O Amaral foi fazer as correrias. Foi no cartório registrar ele, depois foi no meu trabalho encaminhar a papelada pro plano de saúde e passou em casa pra buscar roupas, já que ele ia passar a noite comigo no hospital. Logo que ele saiu começaram a chegar as visitas. Além dos meus pais e minha irmã que já estavam lá, chegou a minha amiga e comadre Vivi (dinda do JP), minhas cunhadas e meu sogro com sua esposa. Todos muito felizes com a chegada do nosso guerreiro. As dindas estavam todas lá, disputando pra quem iria ver as fotinhos primeiro.

Tempos depois o Amaral chegou de volta com flores pra mim. Eram flores do campo, lindas, e tinha um cartão que falava da felicidade dele em estarmos formando a nossa família. Ele me mostrou todo orgulhoso certidão de nascimento: JOÃO PEDRO DO AMARAL DA SILVA. Escolhemos este nome porque meu sobrenome é Pedro, então queríamos algo que combinasse. Acabou que Pedro virou parte do nome e colocamos os dois sobrenomes do Amaral. JOÃO PEDRO, que nome lindo, forte... Nome de gurizinho arteiro.

Mais de noite as visitas foram embora e eu pude levantar da cama. Eu estava ansiosa pra levantar e poder ir ver o JP. O Amaral me deu banho e eu pedi pra enfermeira uma cadeira de rodas pra ficar mais fácil a minha locomoção. Mas ela demorou demais e eu resolvi ir caminhando mesmo. Fui a passos de tartaruga, mas se pudesse eu ia correndo.

Chegando lá na porta da neo, é preciso apertar a campainha e se identificar. Achei tão lindo quando o Amaral disse “somos os pais do João Pedro”. Era lindo e estranho ao mesmo tempo. Ainda não estava acostumada com a idéia.

Entrei e queria ir direto pra perto dele, mas ainda tinha o ritual de colocar avental. Demorou um pouquinho mas enfim consegui chegar até meu gurizinho lindo. Meu Deus, ver ele ali deitadinho, cheio de acessos, aparelhos apitando na volta, uma mangueira na boca e olhos vendados não era nada fácil. Olhava praquele anjo indefeso, tão pequeninho e sabia que eu não podia fazer nada por ele. Foi muito dolorido ver ele naquele lugar. Mas tentei me manter firme, precisava passar confiança pra ele. Então o Amaral me disse que as enfermeiras orientaram que quando nós fossemos tocar nele nós não deveríamos fazer carinho, apenas segurar para que não houvesse estimulação e esforço da parte dele. Como ele estava em maca aberta foi mais fácil de tocar nele e assim que peguei na mãozinha dele ele se mexeu e fez expressão de choro. Não saia som por causa do respirador que estava na traquéia dele, mas dava pra ver que ele reagiu à minha presença.

Segurei na mãozinha dele, beijei, fiquei olhando, rezei, falei com ele, disse o quanto eu o amava e que sabia que ele era muito forte pra sair dali. Olhei o corpinho dele e vi que o coração batia do lado direito, mas mesmo assim fiquei feliz, pois estava vendo o coração dele bater. Tinha medo de fazer tudo o que eu queria pois não sabia se seria bom pra ele, não queria estimulá-lo e deixá-lo agitado.

Pedi que o pediatra de plantão viesse pra falar comigo e em seguida ele chegou. Perguntei como era o estado do João Pedro e ele nos disse que dentro das condições que tínhamos, o quadro dele era excelente, que estava aceitando bem os medicamentos e aparelhos e que na manhã seguinte o cirurgião deveria vir avaliar as condições dele pra cirurgia. Me disse também que pra um bebê de 34 semanas ele nasceu grande, com 43,5 cm. Fiquei bem empolgada, pois isso era um bom sinal. Mesmo sabendo que podia existir o chamado período de lua-de-mel (que é quando acontece uma melhora ou boa reação aos procedimentos, mas logo adiante as coisas podem piorar), eu estava muito confiante. 

Como já era tarde e eu estava com um pouco de dor, resolvemos voltar pro quarto e deixar o JP descansar pra se adaptar bem. Dei um beijo nele e disse pra ele ficar com os anjinhos.

Um comentário:

  1. lembro quando o Rafa chegou no quarto onde estavamos com a Cecília e me disse que havia encontrado o Amaral na entrada do hospital e ele havia dito que o JP havia nascido... Naquele momento comecei a rezar pedindo pela saúde dele... Hoje rezo para que ele de onde estiver esteja sempre olhando por vcs!

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