Meus pais me ensinaram que quando alguém nos estende a mão, temos que ser muito gratos e por isso eu queria muito agradecer pessoalmente às pessoas que fizeram parte da nossa trajetória.
Esperei um pouco, pra criar força e coragem e então marquei uma consulta com o Dr Lionel. Voltar no consultório dele não foi fácil. Olhava as crianças na sala de espera e lembrava que da outra vez quando estive lá, o João Pedro ainda estava comigo e agora eu estava voltando lá só com o Amaral.
Assim que entramos na sala do médico, ele nos deu um abraço tão carinhoso, que me senti confortada por alguém da família. Notei que ele ficou feliz em nos ver. Conversamos um pouco e logo ele quis saber como estávamos nos sentindo, o que eu pensava em relação ao futuro. Ele foi mais do que um cirurgião pediátrico, foi como um psicólogo que tentava me ajudar. Conversamos bastante, falamos sobre o caso do João Pedro, sobre minha gineco não ter aparecido mesmo ele tendo conseguido que ela se credenciasse com o hospital, falamos sobre a possibilidade de eu e o Amaral termos outros filhos e de quando isso vai acontecer.
Lembrei que eu tinha na carteira uma fotinho do parto onde o Dr Lionel aparecia, então dei a foto pra ele como uma forma de agradecimento e lembrança. Pra minha surpresa, ele ficou tão emocionado, fez um carinho na foto, como se estivesse acariciando o João Pedro, encheu os olhos de lágrimas e disse: “mesmo diante de toda a dificuldade da situação, todos nós estávamos sorrindo felizes”. Sabíamos de tudo que poderia acontecer, mas mesmo assim, a emoção de trazer uma criança a mundo é tão grande, que nada nos preocupava naquela hora.
A essas alturas eu já estava chorando no consultório. Nunca encontrei um médico tão sensível e carinhoso como o Dr Lionel e eu estava muito emocionada com tudo. Depois que demos a foto a ele, ele estendeu as mãos pra nós e pediu: “eu não sou da mesma religião de vocês, mas vocês se importam que a gente faça uma oração juntos?” Claro que não me opus. Então de mãos dadas, o Dr Lionel fez uma linda prece pedindo proteção a todas as crianças , aos médicos que lidam com elas, pediu luz ao João Pedro e paz pra mim e o Amaral. Que médico age dessa maneira????? Fiquei mais emocionada ainda. Eu não estava acostumada com médicos assim.
Conversamos mais um pouco e na hora que nos despedimos ele nos pediu que quando resolvermos ter outro filho, que ele gostaria muito de ser comunicado, e disse que se não fosse pedir muito, ele gostaria que levássemos o bebê ao consultório pra ele conhecer. Gente, vocês têm idéia do que isso significa pra uma mãe???? O nosso contato com o Dr Lionel foi tão pequeno, e mesmo assim ele nos tratou e se envolveu como se nos conhecêssemos há anos. Num médico assim a gente pode confiar cegamente. Saí de lá com uma admiração muito maior do que já tive na primeira consulta. Com certeza ele é um homem iluminado, é um anjo que Deus mandou à Terra pra cuidar das crianças. Que Deus sempre o ilumine e o abençoe.
Outro dia tive uma experiência que foi como um divisor de águas na minha vida. Eu precisava de uns documentos do João Pedro pra levar no meu trabalho, só que estes documentos precisavam ser assinados pelos médicos que o atenderam, então eu teria que ir lá no hospital pra buscar. Eu não queria ir lá no Moinhos, tinha medo da minha reação, mas não tinha outra pessoa que pudesse fazer isso, tinha que ser eu. Então liguei, falei com o pessoal lá no hospital pra que deixassem pronto e eu só fosse buscar.
Chegou o dia de ir pegar os documentos e quando eu cheguei na frente do hospital me deu um frio na barriga e eu comecei a rezar, pedindo que o meu anjo me desse força pra entrar lá. Cheguei na recepção, expliquei a situação, o rapaz que me atendeu ligou pra neo pra saber se o documento estava pronto. Quando ele desligou, me disse que eu podia passar lá na neo que o documento estava pronto. Meu Deus, eu não estava preparada pra isso, achava que iam me entregar o documento na portaria do hospital. Nunca pensei que eu tivesse que subir até a maternidade. Rezei mais um pouco e fui.
Quando desci do elevador, já no andar da maternidade, eu me emocionei quando vi os enfeites de porta com os nomes dos bebês. Tentei não olhar, passar rápido pra não dar tempo de pensar.
Cheguei então na porta da neo. Olhei pro botão do interfone e não tinha coragem de apertar. Só vinha na minha cabeça o momento em que eu fui lá ver o João Pedro. Respirei fundo, pedi força e apertei o botão. Para minha surpresa, ninguém veio até a porta, só liberaram pra que eu entrasse. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Eles não deixam entrar na neo quem não é pai de bebê que esteja internado, por isso eu tinha certeza de que eu não precisaria entrar lá. Mas me enganei redondamente.
A porta se abriu e eu tive que entrar. Eu ia entrando com vontade de sair. Fui indo pelo corredor e não vinha ninguém pra falar comigo. A cada passo que eu dava, a minha lembrança ia aumentando. Só conseguia lembrar do momento em que me levaram pra me despedir do João Pedro. Esse é um momento que eu gostaria de esquecer.
Eu ia caminhando pelo corredor e parecia que eu nunca chegava onde tinha que pegar o documento. E quanto mais eu ia entrando, mais eu me aproximava da sala onde o JP estava. A mesa dos médicos fica bem na frente da porta daquela sala, e era lá que estava a médica que me entregaria o documento. Já cheguei lá no final chorando. Apenas me identifiquei e a médica me entregou o documento. Ela não foi uma das médicas que atendeu o João Pedro, então talvez ela não soubesse que seria muito difícil eu entrar lá.
Só peguei o documento, agradeci e virei minhas costas pra sair correndo de lá, e quando eu estava saindo, vi dentro de uma sala a Dra Desiree. Ela que é a diretora da neo e foi quem nos recebeu lá a primeira vez.
Achei então que essa seria uma boa oportunidade de eu agradecer o que ela e toda equipe fizeram por nós. Cheguei na porta da sala e disse que talvez ela não lembrasse de mim, e pra minha surpresa ela disse “claro que me lembro Grayce”. Então ela veio até mim, me abraçou e chorou junto comigo. Não é em qualquer lugar que se encontra médicos assim... Conversamos muito, agradeci muito a ela o que fizeram por nós. E ela ficou muito feliz, pois me disse que a maioria das pessoas na minha situação reage ao contrário, nunca mais volta e fica com raiva das pessoas que se envolveram.
Eu tenho consciência e disse pra ela, que sei que a equipe da UTI Neo do Moinhos fez tudo o que foi possível pelo João Pedro, e o que aconteceu não foi culpa delas. Aliás, não foi culpa de ninguém. Quem sabe os propósitos de Deus???
Falei pra Dra que eu pretendo ter meus próximos filhos lá no Moinhos, porque quero fechar um ciclo que iniciei e ficou incompleto. Ela ficou muito feliz, me abraçou e chorou comigo várias vezes. Ela me disse uma coisa que eu fiquei pasma. Disse que depois do que aconteceu com o João Pedro, fizeram uma reunião na neo e algumas pessoas criticaram o fato da Dra Desirré e da Enfa Andreia terem nos apresentado à Debie e ao Rafa (pais da Cecília que teve HDC e o caso foi de sucesso). Alguns acharam que isso pôde ter nos criado uma expectativa irreal da situação, que eu poderia ficar decepcionada porque deu certo com a Cecília e não com o JP.
Falei pra ela que isso que algumas pessoas pensaram foi exatamente ao contrário. Eu adorei ter conhecido a Débie e o Rafa. Foi muito importante pra gente poder ter tido contato com eles. Sabíamos que mesmo tendo dado certo com a Cecília, não era garantido que daria certo com o JP. Mas conhecer eles e ver a evolução da Cecília nos deu a certeza de uma coisa: nós tínhamos que lutar com ele e jamais desistir. A Débie, o Rafa e a Cecília Batatinha foram pessoas chaves na nossa história. E quando contei isso pra Dra Desiree, parece que tirei um peso das costas dela.
Seguimos conversando e eu falei pra Dra que eu tinha o sonho de ter um quadrinho do JP lá no corredor da neo, mas que infelizmente isso não seria possível pois nosso caso não teve um final feliz. Mas ela foi tão querida e carinhosa comigo que disse que eu posso sim fazer o nosso quadrinho e deixar ali uma mensagem de força e coragem para os pais da neo, falando pra eles que o importante é lutar junto, independente do final da história. Fiquei feliz com isso. Quero sim fazer este quadrinho, mas ainda não me senti preparada. Assim que chegar o momento, ele será feito e entregue à Dra Desireé.
Saí lá da neo muito diferente de quando entrei. Foi como se eu tivesse quebrado uma barreira e a partir daquele momento eu tivesse ficado pronta pra outra. Uma coisa estranha, parecia que faltava só isso pra eu me recuperar. Foi como se eu tivesse fechado um ciclo pra reiniciar outro.
Isso não muda a saudade que eu sinto e a falta que ele me faz, mas parece que passei a viver diferente, mais leve e mais tranqüila.
Quero reforçar aqui, um agradecimento especial aos profissionais da saúde que passaram pela nossa vida neste momento tão difícil.
Dr. Lionel Leitzke (cirurgião pediátrico) – por todo empenho em fazer acontecer, por estar presente me dando apoio na hora do parto, pelo carinho, sensibilidade e dedicação com a gente. Por ter sido o anjo que Deus colocou no nosso caminho.
Dr. Paulo Ferreira (cirurgião pediátrico)– medico do hospital Santo Antônio por ter nos dado uma aula sobre HDC.
Dra Desireé e Enfa Andréia (diretora e Chefe da UTI Neo do Moinhos) – por terem nos permitido conhecer a neo antes de tudo, por terem nos apresentado a Débie e o Rafa e por toda atenção e carinho.
Dr. Arlindo Rosa (obstetra) – por ter se acordado de madrugada para ir de emergência fazer meu parto, sendo que nem me conhecia, por ter feito um trabalho excelente e proporcionado uma ótima recuperação da minha cesárea e por até hoje me dar atenção e ter se tornado meu médico a partir de agora.
Dr. Marcelo (anestesista) – pelo carinho na hora do parto e pela delicadeza e consolo depois que tudo aconteceu.
Dras. Elisabeth e Betânia (intensivistas neonatal) – por receberem o meu anjinho, cuidarem dele e pela força e apoio na hora mais difícil.
Piscóloga Mariana (psicóloga da neo do Moinhos) – pelo carinho dedicado a nós no pior momento da nossa vida.
Téc. De Enfermagem do Moinhos – por todo carinho em me atender e cuidar do João Pedro na neo.
Quero aproveitar este post, para incluir aqui as pessoas as quais eu serei eternamente grata. Pessoas que talvez nem imaginem o quanto são importantes pra nós. A situação que passamos nos mostrou quem são realmente os nossos amigos e quem são as pessoas que mesmo sem grande amizade, nos mostraram o quanto gostam da gente.
Aerton e Elaine – meus pais, que cederam a sua casa, seu quarto, sua cama pra que eu e o Amaral pudéssemos nos recuperar até ter coragem de voltar pra nossa casa. Que fizeram e fazem tudo pra tentar nos deixar bem.
Sela – mãe do Amaral, que da sua maneira tenta nos agradar pra nos deixar bem.
Artur e Salete – pai e madrasta do Amaral que participam junto da nossa dor e fazem de tudo pra nos agradar.
Glaucia e Filipe / Vivi e Eder / Daia e Cláudio / Deisi e Dudu – nossos irmãos, amigos, compadres que aceitaram ser os dindos do João Pedro e honraram este compromisso mesmo a situação sendo muito difícil. Pelo apoio, carinho e força que nos dão no dia-a-dia, por chorarem junto com a gente, tentando dividir o nosso sofrimento.
Tia Néia e Bonito – meus tios que estiveram presentes em todos os momentos, que me disseram palavras lindas e que me dão força até hoje.
Tio Mauro – que mesmo do jeito ele, me mostrou o quanto amava o me filho.
Tia Dulce – que de todas as formas tentou nos dar apoio e coragem.
Daisi – minha prima que não mediu esforços, nos deu força e nos levou pela primeira vez no centro espírita Boa Nova.
Paula e Tio Zezinho – minha prima e meu tio que nos deram um apoio espiritual.
Mara e Lécio – amigos, pais, nossos padrinhos que estiveram presentes em todos os momentos, dos mais felizes aos mais tristes e que são como nossa família.
Jéverson e Aline – primos do Amaral que estiveram junto com a gente nos momentos mais difíceis.
Tiago – primo do Amaral que parecia não acreditar no que estava acontecendo, mas mesmo assim estava lá, presente nos apoiando.
Bel e Guinho – meus primos que me deixaram por alguns instantes usar a Duda pra sentir de novo aquele cheirinho de bebê que o João Pedro tinha.
Heloisa, Camila e Clóvis – minha madrinha e meus primos que ficaram com a gente até o fim, que se preocuparam com o nosso bem estar e que sempre voltam seus pensamentos pra gente.
Kátia do Beto – prima distante, que me disse coisas lindas durante a gravidez, que me confortou e me deu apoio e carinho, mesmo que de longe.
Leandro e Léia – coordenadores do grupo Estrela Guia do centro espírita Boa Nova que sempre me disseram coisas lindas e me deram força pra ir adiante, coragem para encarar as dificuldades e me ensinaram a ter fé.
Padre Adilson – este homem santo, que apenas com um olhar e poucas palavras consegue fazer eu me sentir mais perto de Deus.
Avelino – vereador , amigo da família que ajudou meu pai e o Amaral com a correria de funeral, que homenageou o João Pedro em uma sessão na câmara de vereadores e que apóia minha família sempre.
Dra Raquel Lobato – amiga da minha mãe que encontrei no elevador do prédio quando descobri a gravidade da HDC. Além de me acalmar e me dar força, conseguiu pra mim indicação de um médico muito bom.
Débie, Rafa e Cecília – pessoas maravilhosas que nos receberam no hospital e nos contaram a sua história de sucesso com a HDC e nos deram um exemplo de força e dedicação.
Fátima e Paulo – sogros da minha irmã que estiveram com a gente o tempo todo e principalmente apoiando meus pais.
Maikel – meu cunhado, que até hoje nos dá apoio e carinho.
Dani, Tati e Gisa (e seus maridos) – minhas amigas do coração, do tempo do colégio, que passaram a noite com a gente nos dando força e apoio.
Meus colegas de trabalho – aqueles que estiveram presentes pessoalmente e em pensamento, que me deram força, apoio e carinho. Cito os nomes dos que estiveram mais presentes, mas todos foram importantes: Gisa, Diogo, Fabi, Paty, Ju, Daia, Aline, Ana, Pauline.
Colegas do Amaral – que deram o apoio no trabalho pra que ele seguisse a vida como antes. Cito os nomes de quem ele me comenta, mas com certeza tem muito mais do que isso: Luciano, Gerson, Ricardo, Paulo, Francisco e sua esposa Angelita e um agradecimento especial ao Ronaldo e sua esposa Denise, que mesmo sem nos conhecermos, me apóia incessantemente.
Os nossos grandes amigos Dani e Ilton, Fabi e Everton, Sheila e Willian, Aline e Rodrigo, Sabrina e Maickell que estiveram presentes durante todo o tempo, e nos apóiam e nos dão força até hoje, que choram e sofrem junto, que sentem a mesma saudade que a gente, uma saudade de coisas que não pudemos viver.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que passaram pela nossa vida nesse momento de dor. E de tudo isso, conseguimos tirar uma coisa boa: NÓS TEMOS AMIGOS. Amigos de verdade, que não estão presentes apenas nos bons momentos, amigos que são mais que família, pois nem toda a nossa família participou isso com a gente. Amigos que respeitaram o nosso momento, o nosso nervosismo e a nossa privacidade em querer preservar o João Pedro durante a gravidez não contando pra todo mundo que ele tinha HDC.
AMIGOS são pra toda hora.