Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Homenagem ao João Pedro

Eu nasci e fui criada em uma família que cultua as tradições do nosso estado. Desde criança eu vivia no CTG, usava vestido de prenda, participava de rodeios, grupos de dança e A D O R A V A...

A família do Amaral nunca foi envolvida com isso, mas ele gosta bastante e quando começamos a namorar era evidente essa nossa afinidade. Tanto que, quando saíamos, não íamos à pubs e danceterias como a maioria dos jovens fazem, nós íamos à bailes de CTG.
Na nossa casa aos domingos, sempre temos o sagrado churrasco ao som de música gaúcha tradicional. É um gosto nosso, e da maioria dos nossos amigos também.

Na nossa primeira gravidez, quando descobrimos que seria um menino, na hora já fiquei imaginando como seria a primeira pilcha dele (pra quem não conhece, pilcha ou indumentária é o nome que se dá a roupa tradicional do gaúcho). Estávamos todos “loucos de faceiros” (como dizemos aqui) com o gaudériozinho que chegaria na família, e pra já que comprei uma camisetinha que representaria o amor pelo Rio Grande.


O mês de setembro aqui no RS é um mês de festa, pois é quando comemoramos a Revolução Farroupilha que aconteceu entre 1835 e 1845, onde o objetivo dos gaúchos era se separar do restante do país e se tonar uma república independente. Infelizmente não vencemos esta guerra, mas em homenagem aos grandes guerreiros, o povo que cultua a tradição se reúne e faz um grande evento.

Na minha cidade, esta festa é bem tradicional. Durante uma semana, os CTG´s, Piquetes e pessoas simpatizantes se reúnem, fazem acampamento e a churrascada rola dia e noite. É uma festa muito bonita. Têm apresentações de danças tradicionais, músicas, shows... é muito legal.

Todo ano nós vamos, inclusive meu pai fica acampado direto. Ano passado, nesta época eu estava grávida e a barriga já começava a pesar e quando conversava com as pessoas o assunto era em função do João Pedro e que no ano seguinte (este ano) ele já estaria curtindo a festa vestido de gauchinho. Enfim, a expectativa de todos era muito grande e só se falava no netinho gaudério dos meus pais.

Uma coisa bem engraçada é que, como eu gostava de muito de escutar música gaúcha, o João Pedro acabou gostando também, e bastava ouvir o primeiro toque de gaita que ele se remexia todo na minha barriga. Eu até brincava que quando fosse ganhar ele, levaria pro hospital um CD de música gaúcha pra hora do parto, pra ele já nascer ambientado hehehe. Brincávamos também que ele tinha dedinhos de gaiteiro, pois dava pra ver pela ecografia que tinha dedos finos e compridos.

Naquela época eu ainda não sabia da HDC, e jamais poderia imaginar que tudo que planejávamos, não aconteceria. Enfim, o final dessa história todos já sabem...

Só que há algumas semanas atrás eu tive um sonho. (eu e meus sonhos né...)
Sonhei que estávamos no Acampamento Farroupilha, o João Pedro estava no colo do meu pai, chupando com um ossinho de costela assada e usando sua roupinha de gaúchinho tal qual eu sempre imaginei. A música estava alta e de repente chegou ao nosso acampamento o músico Renato Borghetti. (Um gaiteiro muito tradicional aqui no RS que faz shows pelo mundo inteiro). Quando vi o Borghettinho (assim que ele é chamado) chegando, falei pro João Pedro: “olha filho, esse aqui é o titio que toca aquelas músicas que tu adora, vamos tirar uma foto como ele.” Então peguei o João Pedro no colo e fomos tirar foto com o Borghetti. Neste momento eu acordei.

Acordei com a aquelas imagens nítidas, vivas em minha memória. Era tão real, como se realmente estivéssemos vivendo aquele momento tão sonhado por nós um dia. Me senti feliz, como se eu pudesse ter vivido pelo menos um pouquinho aquele momento com meu picorrucho.

Os dias passaram, contei este sonho pra algumas pessoas e elas se impressionavam com a clareza dos detalhes.

Aí no final de semana passado teve na minha cidade um evento que acontece todos os anos: a Guyanuba da Canção Nativa. É um evento tradicional, onde se revelam novos cantores da música nativista gaúcha. Fui olhar a programação do evento, e pra minha surpresa, na sexta-feira teria show do Renato Borghetti. Claro que eu não ia perder esta oportunidade. Falei com o Amaral e resolvemos ir no show. Pra mim aquilo seria como prestar uma homenagem ao meu filho. O Borghettinho não é um cara muito acessível, vive em turnê pela Europa, não faz shows por aqui com tanta freqüência e diante das circunstâncias, eu não podia deixar isso passar.

Era um show beneficente e a entrada eram 2kg de alimentos. Pensei que estaria lotado, mas me surpreendi. Tinha muito lugar sobrando, inclusive na área reservada. Infelizmente eventos assim estão sendo cada vez menos prestigiados, nossa cultura está cada vez menos sendo difundida... mas lamentos a parte....

Com o pouco público que tinha, conseguimos um lugar bem na frente, praticamente uma área VIP. Assistimos ao show na primeira fila, há poucos metros dele.
O show é simplesmente S E N S A C I O N A L, ao meu gosto claro. O cara literalmente dá um show na gaita. Toca muito.

Quando acabou o show, nosso amigo que é secretário de cultura da cidade nos convidou para visitar o camarim. Claro que topamos. Só deixamos as autoridades entrarem primeiro, mas logo depois entramos nós.

Imaginei que pela fama e importância do artista, que ele fosse um nojo, que não desse muita atenção aos fãs e que nem dos daria bola. Muuuuuito pelo contrário. Fomos recebidos por uma cara muito simples, simpático, que nos tratou super bem.

Contei a ele porque eu estava ali, falei do sonho que eu tive e ele ficou me olhando com os olhos de quem estava sentido ao ouvir aquilo. Mas não deixei a tristeza dominar o clima. Falei a ele que estava ali pelo meu filho, pois tinha certeza que ele adoraria estar naquele lugar com a gente. Então entre risos o Borghetti nos abraçou e com seu sotaque forte nos disse assim: “olha, eu tenho uma coisa com esse negócio de fertilidade... eu tenho cinco filhos, e cada vez que eu cuspo no chão, nasce uma árvore. Só tenho uma coisa pra dizer pra vocês... vocês chegaram perto de mim, e pegaram esse negócio, tá a caminho, pode ter certeza que tá a caminho. Esse show de hoje, eu dedico ao filho de vocês, João Pedro, e vocês vão me prometer que a próxima vez que eu vir em Sapucaia, vocês vão trazer no meu show os outros filhos que vocês tiverem e vão trazer no camarim pra eu ver”.  

Foi tão engraçado ele nos dizer tudo isso. O jeito como ele falou foi hilário. Mas enfim, nos divertimos e rimos muito com ele. O clima estava muito agradável, batemos várias fotos e tivemos que deixar as outras pessoas entrarem.

Saí dali como se eu tivesse feito um agrado ao João Pedro. Como se aquele sonho que eu tive, realmente tivesse acontecido e o JP tivesse ali com a gente. E quem disse que não estava????

Fiz isso por ele, pra ele e, com certeza, com ele.

No camarim...

3 comentários:

  1. heheheheh showww de bola Grayce!!! To rindo até agora com o jeitao dele hahahaha. é uma figura!

    beijaoo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Carol disse...

    Olá Greyce, ontem estava no consultório dentista e folheei uma revista de bebês enquanto esperava, caí numa página no qual o título era "Ninguei me contou que meu bebê não voltaria pra casa",comecei a ler e me emocionei com a história de uma mâezona que não pôde chegar em casa com seu bebê!
    Não pude terminar de ler, mas gravei na minha mente o nome do blog.
    Hj eu vim até aqui, pra prestar uma homenagem nesse dia tão especial e dizer que vc tb é uma guerreira e serve de exemplo pra todas nós futuras mamães cheias de medos!
    Muitas alegrias pra vc e sua família!
    Parabéns querida!
    Beijos...
    *.*

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