Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Um jeito novo de ser mãe

As festas de final de ano estavam se aproximando. Mas o que eu tinha pra festejar???? Tinham sim acontecido muitas coisas boas durante o ano, mas a única coisa ruim superou todas as coisas boas. Antes tivesse sido ao contrário. O resto todo tivesse sido ruim e apenas uma coisa tivesse sido boa. Mas como minha amiga Dani me disse “Deus sabe o que faz, e a gente não sabe o diz...”. Guardei essa frase na minha cabeça, porque é a mais pura verdade.

Eu estava irritava na semana antes do Natal. Ficava com raiva de ver as pessoas alegres, comemorando o ano que estava acabando. A felicidade das pessoas me incomodava, e por isso eu saia pouco de dentro de casa, mas aí me deparava com a televisão, e me irritava também. Minha moral me dizia que eu não devia agir assim, que era feio invejar a felicidade das pessoas, mas minha mente não conseguia fazer outra coisa. Eu sabia que eu estava errada, mas não conseguia fazer diferente. Era muito complicado entender o que se passava na minha cabeça. Nem eu me entendia. Mas aminha psicóloga dizia que isso ia passar.  

Resolvi que ia fazer uma tatuagem pro JP. Eu já tinha um raminho de flores no pé com as iniciais minha e do Amaral, e sempre dizia que quando tivesse filhos, ia incluir as iniciais dos filhos também. Então fui ao Studio de tatoo e pedi pro Jean fazer as letras JP com asinhas e aureola, simbolizando um anjinho. Em meia hora estava pronta, e ficou linda. Chorei quando vi, pois não era bem assim que eu imaginava homenagear meu filho, mas nesta situação, não tinha como ser diferente. Todo mundo elogiava e me diziam que não tinha homenagem mais bonita que eu pudesse fazer. Sei lá, eu achava que aquilo era pouco, mas não tinha mais o que fazer.


Chegou então a noite de Natal. Há 19 anos minha família passa o Natal sempre juntos e temos a tradição de fazer amigo secreto. Já tínhamos sorteado os nomes antes de tudo acontecer, mas diante da situação, cancelamos. Tirei o papelzinho pelo JP, e o amigo secreto dele era o meu primo Dudu, que ia ser um dos dindos, e quem tinha tirado ele era o meu primo Filipe, que seria o outro dindo. O Dudu e o Filipe eram os únicos meninos da família até a chegada do João Pedro, e casualmente o amigo secreto ficou entre os meninos da família.

A ceia seria na casa da Tia Néia, e eu já saí de casa chorando, pois imaginava que na noite de Natal ele ainda estaria dentro da minha barriga. Eu estava muito emotiva, e não tinha como ser diferente. A época de final de ano já é uma época propícia ao sentimentalismo. Eu sou uma chorona independente da época, e com tudo que tinha acontecido, eu estava em frangalhos.

Sempre fazemos a ceia por volta das 23 hs, para que à meia-noite estejamos livres pros abraços, e antes de ceiarmos, fazemos nossas orações de agradecimento. A hora estava se aproximando, e eu comecei a me sentir mal. Fui pra perto do Amaral, tentei disfarçar mas não consegui. Me abracei nele e comecei a chorar. Logo chegou minha mãe e meu pai. Eles nos abraçaram e choraram junto com a gente. Minha tia Neia veio nos abraçar também, e a noite virou uma choradeira. Não tinha como ser diferente. Só conseguia pensar nele, que era noite de Natal e eu não tinha comigo o meu filho. Lamentava que eu não pude nem comprar um presentinho de Natal pra ele.

Na hora da ceia, meu tio Bonito, dono da casa, fez o agradecimento inicial e passou a palavra pro Amaral, que só conseguiu agradecer o apoio e o carinho que minha família estava nos dando. Eu não conseguia falar, então pedi que minha irmã lesse as cartinhas que o João Pedro havia nos mandado através do centro espírita. Depois disso, minha prima Daisi pediu se podia ler uma mensagem que ela escolheu pra mim e pro Amaral. A mensagem era assim:

“Grayce e Amaral
Hoje, de algum lugar longe dessas terras, há um doce olhar só pra vocês. Um olhar especial, de alguém especial, de distantes origens. Um olhar de um justo coração que pulsa à vida, que sorri porque ama plenamente, sem julgamentos, preconceitos nem prisões.
Hoje, como ontem, longe desses céus, há um encantador olhar só pra vocês. Nesse olhar vai para vocês a magia da luz, a simplicidade do perdão, a força para comungar com a vida, a esperança de dias mais radiantes de paz.
Hoje, de algum lugar dentro de vocês, alguém que já os amou muito e ainda os ama diz para vocês que valeu a pena ter estado nessas terras, sob estes céus, falando de união, paz, amor e perdão... Para vocês poderem sentir a força que faz vocês sorrirem e continuarem o caminho que um dia aquele doce olhar iniciou pra vocês.
Tudo isso, só para você saberem que a vida continua e a morte é apenas uma viagem...”

Linda a  mensagem, não tinha como não me emocionar, ali dizia coisas lindas, e eu sentia como se o João Pedro estivesse nos mandando um recado.

Não só pra mim e pro Amaral, mas pra toda a minha família, o Natal não teve sentido desta vez. Não festejamos, apenas ceiamos e acabou a noite. Fomos pra casa cedo. No outro dia fomos almoçar com a família do Amaral. Lá foi mais um encontro de emoções. Minhas cunhadas e a esposa do me sogro choraram muito quando nos abraçamos. Foi um Natal difícil pra todos.

No domingo, dia 26, estava um dia muito bonito e fomos pra casa dos meus pais aproveitar o dia na beira da piscina. Aos poucos começaram a chegar nossos amigos e logo a casa ficou cheia. Tava tão bom estar no meio das pessoas que gostamos que consegui espairecer e curtir o dia. Não deixei de pensar nele um só momento, mas conseguia pensar nele com alegria. A casa estava cheia de crianças, todas se divertindo, correndo e se atirando na piscina. Pensei muito no JP, ele ia adorar estar ali com certeza. O clima era de tanto amor que com certeza ele estava lá.

O Lécio, amigo do meu pai, me abraçou e disse que eu não devia ficar triste, pois logo logo viria uma menina pra alegrar nossos dias. Eu ri, pois várias pessoas já tinham me falando que achavam que em seguida eu teria outro filho e seria uma menina. Então o Lécio me disse que não estava brincando, pois ele havia “conversado” com o João Pedro e ele tinha dito que em breve mandaria uma menina para ser guiada por ele. O Lécio sempre teve essas coisas de ser sensitivo, e eu nunca tinha dado bola, mas agora, depois de estar indo no Boa Nova, eu acreditava em tudo.

No final do dia, chegou o Guinho, primo do meu pai, com sua esposa Bel e a filhinha deles Duda que nasceu um mês antes do JP. Não agüentei quando vi a Dudinha. Pedi pra pegar ela o colo e pude sentir nela o mesmo cheirinho do João Pedro. Abracei ela forte, fechei meus olhos e imaginei que fosse ele. Foi tão bom aquele tempinho com ela que pareceu mesmo que era ele que eu estava segurando. Quando percebi, além de mim todas as outras pessoas na volta estavam chorando também.

Mais tarde a minha comadre Dani tinha que ir embora. Então quando eu fui levá-los até o portão, a Manu, filha dela que tem apenas 2 anos mas é muito esperta, olhou pro Canil, apontou e perguntou “aquele ali é o Zuão Pedo?”. Meu Deus, minhas pernas bambearam... perguntei pra ela onde ela tava vendo e ela respondeu “alí ó, zunto cus caçorro”. Daí eu disse, “deve ser ele sim, o que ele ta te dizendo?” e ela me disse “ele não sabe falar”. Fiquei zonza, apavorada, mas era um pavor de felicidade. Percebi que tinha esquecido a chave do portão, voltei pra buscar e quando cheguei no portão de novo a Manu apontou pra outro lado e perguntou “e aquela ali quem é?” Respondi que não sabia, pois eu não estava vendo nada, ninguém além da Manu estava vendo coisa alguma, só ela. Não demos corda pra ela, pra não incentivar, mas ela falava coisas espontâneas.

Fiquei radiante com aquilo. Pra mim foi como se o João Pedro tivesse vindo me visitar. Eu não podia vê-lo, mas sabia que ele estava ali. Pensei nele o dia todo com tanto carinho, que o sentimento atraiu ele pra perto. Se isso é verdade ou não, eu não sei, mas me fez um bem enorme, e eu preferi acreditar. Afinal, porque uma criança de apenas 2 anos ia “inventar” uma coisa dessas?

A Dani me contou outro dia que depois que chegaram em casa, ela conversou com a Manu e perguntou: “Filha, tu viu nenê lá na casa da Tia Grayce?” e a Manu respondeu “vi mãe, eu vi os dois nenê da tia Gueici” e a Dani perguntou de novo “que dois nenê Manu?” e ela respondeu “é mãe, os dois: o Zuão Pedo e guriazinha. Como é o nome da guriazinha mãe?” Então a Dani não entendeu e perguntou se a Manu tava falando da Dudinha e eis que a Manu responde “não mãe, a Dudinha é filha da ota titia, e eu to falando da filha da tia Gueici”. Daí a Dani disse pra Manu que não sabia quem era, porque eu não tinha uma filha, então a Manu falou “tem sim, a guriazinha tava com o Zuão Pedo no colo. Ele fazia inhé, inhé e ela cantava pra ele ‘borboletinha, tá na cozinha...’” A Dani não deu continuação na conversa, mas me contou impressionada.  E com tudo isso eu fiquei mais impressionada ainda. Meu Deus, meu filho estava presente naquele dia, eu sabia disso. Mas quem era essa guriazinha que estava junto??? Seria a irmãzinha que o João Pedro falou pro Lécio? Quem sabe... Eu tava tão feliz que nem conseguia pensar direito.

Fiquei tão feliz, radiante que nada podia estragar o meu dia. E assim seguiu durante aquela semana entre Natal e Ano Novo. Consegui passar um dia sem chorar. Percebi que eu estava conseguindo encarar essa nova realidade e que eu estava aprendendo um novo jeito de amar e de ser mãe. Eu tinha que aprender a ser mãe à distância e me dei conta de que não FUI mãe, eu SOU mãe.

Resolvi que naquela semana eu mexeria nas roupinhas dele. Como eu tinha lavado todas elas um dia antes dele nascer, elas estavam todas por guardar. Fui então pro quartinho dele, estava ouvindo música e de repente começou a tocar a música “agora eu já sei” da Ivete, música que ela fez pro seu filho quando estava grávida e que eu tinha escolhido pra colocar no álbum digital do book de gestante. A música é linda e eu fiquei muito emocionada e cantava e chorava ao mesmo tempo. Senti uma brisa entrando pela janela, me arrepiei toda e em uma prece desesperada eu rezei: “Meu filho, a mãe não tá a vontade pra doar as tuas roupinhas. A mãe sabe que vai ser mais útil pra outra criança que esteja precisando, mas a mãe não se sente com vontade de fazer isso. Me dá uma luz meu filho. Fala pra mãe o que é pra mãe fazer, se é pra doar ou se é pra guardar. Fala pra mãe se um dia tu vai voltar ou se tu vai mandar um irmãozinho logo. Aparece pra mãe em um sonho, me dá um sinal, uma sensação, qualquer coisa que seja que eu possa entender o que tu tá querendo me falar. A mãe vai guardar as roupinhas numa sacola e só vai mexer nelas de novo depois que tu me der um sinal.”

Eu precisava de uma resposta, minha moral dizia que eu deveria doar, mas meu coração não deixava eu fazer isso. Mas eu não esperava que a resposta viesse tão rápido...

Depois que fiz a oração, peguei uma sacolinha e guardei as roupinhas. Deixei a sacola no quartinho e continuei limpando minha casa. Cerca de 10 minutos depois voltei no quartinho e fui pegar a sacola para guardar no roupeiro quando tive uma grata surpresa. Olhei na sacola e estava escrito à caneta e sublinhado duas vezes “JOÃO”. Meu Deus, minha resposta estava ali. É claro que eu sei que não foi ele quem pegou uma caneta e escreveu o nome dele na sacola, mas ele me induziu a pegar uma sacola que já tivesse o nome dele escrito.

Detalhe: a sacola que eu peguei, era uma sacola que eu tinha trazido do centro no dia anterior quando fui comprar um chinelo. Eu cheguei em casa, tirei o chinelo da sacola e já coloquei ela pra ser usada como lixinho e nem vi que tinha algo escrito. Provavelmente João é nome o menino que me atendeu na loja, e ele deve ter escrito seu nome na sacola pra registrar que a venda foi dele, sei lá, pra mim só pode ser isso.

Mas naquele momento, pra mim, ver o nome do meu filho escrito na sacola era a resposta do que eu havia perguntado pra ele em oração. Aquelas roupinhas são do João. Diante disso, guardei tudo: roupinhas, fraldas, brinquedos, tudo que ganhamos quando eu estava grávida. Se um dia ele voltar pra mim ou um irmãozinho vier, será usado tudo que era do João Pedro.

Quando eu contava isso, algumas pessoas achavam que eu estava ficando louca. Pra mim pouco importa o que as pessoas pensam. A minha crença me faz acreditar que isso foi sim um contato do meu filho, da forma que ele pôde. E outra, se é verdade ou não, só Deus pra saber, mas se me faz feliz, porque eu não vou acreditar. Aquele momento pra mim foi de muita felicidade. Peguei aquela sacola nos braços, abracei e beijei como se fosse o João Pedro que estivesse ali. E de certa forma, era ele, da maneira como ele conseguiu se fazer presente, ele estava ali sim.

Depois disso meus dias seguiram diferente. Eu estava lendo o livro “Espíritos entre Nós” de James Van Prag, e no livro eu encontrava explicações para tudo o que estava acontecendo. Inclusive no livro tinha um depoimento de uma situação muito parecida com essa, em que um espírito deu um sinal através de uma placa de carro com as iniciais de seu nome. Tudo que eu lia reforçava mais ainda a certeza que eu tinha de que meu filho estava sempre perto de mim e se comunicando como podia. Todas as noites eu agradecia a Deus por eu ter o privilégio de receber e conseguir entender essas formas de contato.

Veio então a festa de Ano Novo. Passamos a meia noite na casa da minha cunhada. Claro que foi triste. Choramos muito sentindo a falta dele, mas eu sabia que ele estava bem e que não era bom lamentarmos o que aconteceu. Dali em diante eu não queria mais lamentar nada, chorar por ele só de saudade. Mas a saudade dói de mais...

Letra da música da Ivete que marcou um momento nosso...

Agora Eu Já Sei
Composição: Ivete Sangalo / Gigi
Duvidava não entendia
Quando alguém me falou
Suspirava, que agonia
Pra sentir esse amor
Tempo, mestre de todas horas e dias
Passou sem ver
Te amar de verdade, sentir saudade
Mas só de você, só de você
Agora eu já sei
Quando falta a respiração
É a prova que um coração
Já não sabe mais viver sem você
Agora eu já sei
Que me falta sempre a razão
Traduzir melhor na emoção
Do que trago aqui, bem dentro de mim
Dentro de mim...
Duvidava, não entendia
Quando alguém me falou
Suspirava de agonia
Pra sentir esse amor
Tempo, mestre de todas horas e dias
Passou sem ver
Te amar de verdade, sentir saudade
Mas só de você, só de você
Agora eu já sei
Quando falta a respiração
É a prova que um coração
Já não sabe mais viver sem você
Agora eu já sei
Que me falta sempre a razão
Traduzir melhor na emoção
Do que trago aqui, bem dentro de mim
Agora eu já sei
Quando falta a respiração
É a prova que um coração
Já não sabe mais viver sem você
Agora eu já sei
Que me falta sempre a razão
Traduzir melhor na emoção
Do que trago aqui, bem dentro de mim
Dentro de mim...
E eu que duvidava e não sabia
Que esse verdadeiro amor chegou
Verdadeiro amor chegou
Verdadeiro amor

6 comentários:

  1. Grayce, com certeza tu tem q acreditar no que te faz bem... Os outros são os outros e somente isso...

    Entrega o teu caminho ao Senhor ; confia nele, e ele o fará. (salmo 37.5)

    Beijos

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  2. Grayce,
    Qta emoção..impossivel ñ se emocionar lendo seu relato...
    Crianças vem as coisas sim, acredite!!!!
    Mt lindoo!!!
    Quem sabe seu anjinho volta pra vc....ou se ñ voltar será sempre seu....q como vc escreveu veio com uma linda missão e é uma grande lição d vida.
    Ele é um guerreiro,presente de Deus.
    Mta força,q Deus continue t guiando e t carregando no colo.

    bjs
    Pri Cobra

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  3. Grayce lendo seu post eu lembro exatamente desses sentimentos parecidos que tive, pois perdi minha Giovana na mesma época... Foram as piores festas de final de ano...
    Agora, passados 3 anos, irei tentar engravidar este ano! Rezo pra minha anjinha mandar uma maninha cheia de saúde!
    Força querida e não desista dos seus sonhos! Seu anjinho estará sempre protegendo vocês!

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  4. Bela me emociano sempre q leio!!!
    Mas pode ter certeza q o teu anjo esta,sempre iluminando vcs!!!
    Bjoss
    Fiquem com Deus!!!!

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  5. Grayce vc viu q no dia 1 de abril,vai estreiar o filme "AS MÃES DE CHICO XAVIER"!!!
    bjosss

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  6. Você não entendeu nada. Ele queria que você doasse as roupas, um espírito evoluído não é apegado a matéria.

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